sábado, 16 de julho de 2011

Lições de Bichos e Coisas...

Recebi uma “Pessoinha” muito agradável durante boa parte do meu dia em casa, essa menininha, embora com medo aparente de cachorros, o que é extremamente normal para sua idade e tamanho, me fez refletir sobre o fantástico poder que um animalzinho tão pequeno e frágil tem sobre nós “Seres Humanos”.
Confesso que sou meio suspeito em falar de animais, em particular os de estimação, pois meu amor e adoração por eles creio que vai muito além da imaginação de qualquer pessoa.
Assim mesmo, pensei muito em até tentar alguma explicação pelo universo tão misterioso para nós. Como diz um pedacinho da música do Teatro Mágico:
“Descobrir o verdadeiro sentido das coisas
 É querer saber demais
 Querer saber demais...”
Tenho inveja das plantas e dos animais. Parecem-me tão tranquilos, possuidores de uma sabedoria que nós não temos. Como se desfrutassem da felicidade do Paraíso. Sofrem, pois não existe vida sem sofrimento. Mas sofrem como se deve, quando o sofrimento vem, na hora certa, e não por antecipação. Saber sofrer é uma lição difícil de aprender. Se o terrível nos golpeia e não sofremos, algo está errado.

Pois como não chorar, se o destino nos faz sangrar?
Se não choramos é porque o coração está doente, perdeu a capacidade de sentir. Mas sofrer fora de hora é doença também, permitir-se ser cortado por golpes que ainda não aconteceram e que só existem como fantasmas da imaginação.
Os animais sabem sofrer.
Nós não.
Somos prisioneiros da ansiedade.
Pois ansiedade é isto: sofrer fora de hora, por um golpe que, por enquanto, só existe no futuro que imaginamos.
Talvez os animais sejam sadios de alma e nós, doentes.
Norman O. Brown, um intérprete dissidente da teoria psicanalítica, parece concordar, ao se referir à saúde simples que os animais gozam, mas não os homens.
Alberto Caeiro chama as próprias plantas como testemunhas da nossa doença.
Diz ele:
“Ah, como os mais simples dos homens são doentes, confusos e estúpidos ao pé da clara simplicidade e saúde em existir das árvores e das plantas!”
E Jesus Cristo, sofrendo com a nossa dor pelos sofrimentos que a ansiedade coloca no futuro, nos aconselhou a aprender da sabedoria das aves dos céus e dos lírios dos campos, reconciliados com a vida, vivendo as dores e felicidades do presente, e livres dos fantasmas da imaginação ansiosa.
Sofremos pelo futuro e, por isto, não podemos colher as modestas, mas reais alegrias que o presente nos oferece.
Jorge Luís Borges, num pungente documento, declara que foi assim que ele deixou passar a sua vida: “ Eu era um desses que nunca ia à parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um paraquedas. Se voltasse a viver, viajaria mais leve. Se eu pudesse voltar a viver, correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Se não o sabem, disso é feita a vida, só de momentos. Não percam o agora.
Mas, ele conclui, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.
Acho que todo mundo sabe, intuitivamente, que existe uma loucura na maneira de ser dos homens. E é por isto que a nostalgia por um sítio ou por uma casa na praia aparece como um dos nossos sonhos mais persistentes. Para longe do falatório dos homens, quando todos falam e ninguém escuta.
De volta para a natureza, onde se diz e, no silêncio, se ouve uma sabedoria esquecida.
Dizem que São Francisco de Assis pregava sermões aos animais, não acredito.
Acho que se equivocaram, pois só pregão sermões aqueles que se julgam portadores de uma sabedoria que os outros não têm.
Prega-se para convencer os outros a reconhecerem os seus erros.
Que se arrependam, e para que, pela palavra ouvida, eles se tornem melhores.
Mas, de que erro convenceremos as plantas e os animais???
Pois são perfeitos em tudo o que fazem.
Borboletas e beija-flores, lobos e urubus, tigres e golfinhos,cachorros e gatos, emfim; todos eles se movem harmônicos ao som da melodia que toca dentro dos seus corpos.
Nenhum dos seus movimentos é uma mentira.
Por dentro e por fora são a mesma coisa.
Autênticos...
Que ensinamento temos que possa melhorá-los???
Os animais ditos amestrados, deleite dos frequentadores de circo, só me dão tristeza.
Pois eles só aprendem o que os homens lhes ensinam na medida em que se esquecem daquilo que a natureza lhes ensinou.
Acredito, ao contrário, que o santo conversava com os animais, escutava o seu silêncio, e, se falava alguma coisa, era como o aluno que repete em voz alta aquilo que aprendeu dos seus mestres.
Não era o santo que pregava aos animais; eram os animais que lhe ensinavam a sua sabedoria.
E talvez seja esta a razão porque ele seja tão amado, porque nos seus gestos e palavras ele nos diz de um jeito de ser de plantas e bichos de que nos esquecemos e de que queremos nos lembrar, para sermos menos infelizes.
São Francisco de Assis não foi o único, Zaratustra, segundo os poemas que relatam a sua vida, cansou-se dos homens, e por dez anos vivei sozinho no alto de uma montanha, tendo como seus únicos companheiros uma águia e uma serpente.
Thoreau, da mesma forma, abandonou a civilização para viver no meio das matas para ali aprender um saber que não se encontrava nos livros e nas escolas.
E Santo Agostinho, em suas confissões, declara que os seus mestres foram as coisas, as plantas e os animais:
“Perguntei a terra, ao mar, a profundeza e, entre os animais, as criaturas que rastejam. Perguntei aos céus, ao sol, a lua, as estrelas e a todas as criaturas a volta da minha carne: Minha pergunta era o olhar que eu lhes lançava. Sua resposta era a sua beleza.”
Me dirão que plantas e animais não falam, engano.
É verdade que estão mergulhados no silêncio. Mas é neste silêncio que interrompe o vozerio dos homens que uma voz é ouvida, vinda das profundezas do nosso ser.
Pois é ai que mora a sabedoria que perdemos.
Pergunto:
- Você tem dificuldade em ouvir a voz das plantas e dos animais???
Pois que leia os poetas, profetas do seu saber sem palavras.
A sugestão de felicidade de Cecília Meireles, onde ela diz que deveríamos ser como a flor que se cumpre sem pergunta, a cigarra, queimando-se em música, ao camelo que mastiga sua longa solidão, o pássaro que procura o fim do mundo, o boi que vai com inocência pelo brete para a morte.
E conclui: Sede assim qualquer coisa serena, isenta, fiel. Não como os demais homens.
Com o que concorda Alberto Caeiro, discípulo dos mesmos mestres:
"Sejamos simples e calmos, como os regatos e as árvores, e Deus amar-nos-á fazendo de nós belos como as árvores e os regatos, e dar-nos-á verdor na sua primavera e um rio aonde ir ter quando acabemos."
"Descobrir o verdadeiro sentido das coisas
  É querer saber demais
  Querer saber demais...
  Hum... E o mundo é perfeito
  Hum... E o mundo é perfeito
  E o mundo é perfeito."
Obrigado Menininha, fica aqui registrado minha gratidão por um breve tempo para refletir sobre bichos e coisas, disso é feito a vida, só de momentos. Forte Abraço, Paz e Luz...


2 comentários:

  1. Grande Oscar!!
    Faz um tempão que não nos falamos, fiquei de voltar para a faculdade e ainda não consegui. Parabéns pelo blog, fico feliz de saber que preserva o gosto pela escrita e pela literatura, notei que está colocando muitas referências de escritores, artistas em seus textos, isso é muito bom... quero tirar um tempo para ler mais. estou meio parado.

    Continuee escrevendo, quem sabe daqui um tempo não lançamos um livro com os textos do blog. tudo é possivel.. abração, tudo de bom!!

    ResponderExcluir
  2. grande oscar..
    saudadess

    gostei do blog, muitas referências, muita poesia..
    Parabéns

    um grande abraço!

    ResponderExcluir