quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Problemas

  
Toda Vez que o assunto é sobre "elas" acaba-se falando ou dizendo tanto e na maioria das vezes pouco se fala ou diz, quero falar sobre esses seres que cantam e encantam o nosso universo masculino, vocês, mulheres...
                   
Qualquer distância entre nós

Virou um abismo sem fim
Quando estranhei sua voz
Eu te procurei em mim
Ninguém vai resolver
Problemas de nós dois.


Se tá tão difícil agora
Se um minuto a mais demora

Nem olhando assim mais perto
Consigo ver porque tá tudo tão incerto
Será que foi alguma coisa que eu falei?
Ou algo que fiz que te roubou de mim?
Sempre que eu encontro uma saída.
Você muda de sonho e mexe na minha vida.

O meu amor conhece cada gesto seu
Palavras que o seu olhar só diz pro meu
Se pra você a guerra está perdida
Olha que eu mudo os meus sonhos,
Pra ficar na sua vida!

Se tá tão difícil agora
Se um minuto a mais demora
Nem olhando assim mais perto
Consigo ver porque tá tudo tão incerto
Será que foi alguma coisa que eu falei?
Ou algo que fiz que te roubou de mim?
Sempre que eu encontro uma saída
Você muda de sonho e mexe na minha vida.

O meu amor conhece cada gesto seu
Palavras que o seu olhar só diz pro meu
Se pra você a guerra está perdida
Olha que eu mudo os meus sonhos,
Pra ficar na sua vida!

É isso mesmo..."Pra ficar na sua vida." Isso é lindo, e bem profundo também. Ah!!! quem dera todos Homens tivessem essa capacidade... Bem... A letra de Ana Carolina é apenas o incício...
Nos próximos dias prometo "clarear" um pouco mais!!!
Então aí vai:
                    Chega essa culpa pra lá.
Culpa. Esta é uma palavra que tenho ouvido demais na boca das mulheres. E incerteza...
Estamos, em bloco, culpadas. De quê?
Culpadas estão quase todas as que trabalham. Porque não estão em casa, onde sempre lhes disseram que deveriam estar. Porque não estão coladas nos filhos. Porque não estão à disposição dos maridos. Porque, cumprindo a sua vida, não se sentem cumprindo à perfeição aquelas que são considera­das suas atribuições primordiais.
Mas culpadas estão também as que, em casa, ao lado dos filhos e cuidando das camisas dos maridos, se perguntam se não estariam deixando de preencher um destino maior. O seu vôo individual.
E culpadas nos sentimos todas se a nossa resposta sexual não é completa.
Assim como uma vaga culpa nos rói ao lado do parceiro sexual insatisfatório, por não estarmos procuran­do outro.
Culpa menor, porém, do que aquela que nos ataca impiedosa, se afinal o procuramos.
E em culpa, aflitas, nos perguntamos, será que estou fazendo bem?
Mas o que seria, meu Deus, fazer bem?
Olho a mulher ao lado. Que me olha. De frente ou enviesadas, em infindá­vel cadeia, nos olhamos todas, mulheres, procurando uma na outra a possibilidade do acerto, a solução alcançada.
E todas, cada uma no seu canto de vida, nos achamos individualmen­te responsáveis, se não pelo erro, pela sensação de erro.
Pois além de todas as culpas, sofremos também a de nos sentirmos culpadas de, apesar dos esforços, não alcançar a serenidade.
Mas hoje, para a vizinha que me olha, para a mulher que me lê, quero ter uma resposta. Não de acerto. Mas de caminho.
Hoje quero dizer, alto e bom som, que não, que não somos culpadas. Seja do que for. Quero puxar o cordão das inocentes.
Digo logo: somos mutantes, mulheres em transição. Como nós, não houve outras antes.
E as que vierem depois serão diferentes. Tivemos a coragem de começar um pro­cesso de mudança. E porque ainda está em curso, estamos tendo que ter a coragem de pagar por ele.
Que não seja porém individualmente, em tantos sofri­mentos calados.
E sim em grupo, aos brados, como classe que reclama seus direitos, e cobra das outras classes aquilo que lhe faz falta.
Saímos de um estado que, embora insatisfatório, em­bora esmagador, estava estruturado sobre certezas. Isso foi ontem. Até então ninguém duvidava do seu papel. Nem ho­mens, nem muito menos mulheres.
Jamais passou pela ca­beça da minha avó a suspeita de que poderia ter sido pro­fissional tão brilhante quanto meu avô, e gostado disso.
Era boa dona-de-casa, e quando nos jantares o marido baixava de leve a cabeça aprovando a comida, ela se considerava satis­feita.
Tinha, na aprovação dele, a aprovação do mundo. E se o molho dava certo era sinal de que tudo estava nos seus devidos lugares.
Mas essa certeza nós a quebramos, para podermos sair do cercado.
Não fomos tão atiradas a ponto de quebrar tudo, sem ter o que botar no lugar. Nós tínhamos, temos, uma nova certeza.
Mais plena e bonita. Mas a substituição leva tempo.
A certeza a que renunciamos estava solidificada através de séculos, protegida por argumentações convincentes, que lançavam mão da natureza, do instinto, das vontades divinas, da missão fundamental.
Se o ventre inchava, então não havia dúvidas, existíamos para ser mães. Se a musculatura era me­nor, então não havia dúvida, a natureza nos havia destinado a ser mais fracas.
E se éramos mais fracas, então não havia dúvida, o homem devia tomar conta de nós. E tomar conta, nós sabemos o que significa.
Se dúvidas havia, foram devi­damente sufocadas. Até chegar em nós. As viradoras de mesa.
Agora lá está a mesa virada, a louça toda no chão.
Mas percebemos que, enquanto duas pernas estão pro alto, as ou­tras duas teimam em ficar cravadas no chão, recusando o equilíbrio.
São, de alguma maneira, as correspondentes das nossas raízes.
Sim, nossa nova verdade é muito bonita.
Achamos que existimos não só para ser mães, como para muitas outras coi­sas mais. Achamos que a cabeça, e não a musculatura, deter­mina a força. E que, com a cabeça que temos, não precisamos de ninguém tomando conta da gente.
Temos certeza disso? Temos. Mas a certeza maior, aque­la que tranqüiliza, é feita também de vivência. E essa não temos.
Tudo começou tão ontem, que de fato ainda está come­çando.
Se olharmos para a frente, veremos apenas umas pou­cas pioneiras antes de nós. E se olharmos para trás veremos uma grande multidão que somente agora começa a acordar. A mudança não se fez.
Está se fazendo. E, no "durante" do processo, impossível ter as respostas e as soluções já compu­tadas.
No Canadá, num instituto ligado à educação, ocorria uma importantíssima reunião. Uma amiga minha, Rosiska Darcy de Oliveira, autora de Mulher, sexo no feminino, esta­va lá. Foi ela que me contou. De repente, no acarpetado silêncio em que se tomam as grandes decisões, explodiu alto, inesperado, o choro de um bebê. Espanto. Levantam-se os componentes da mesa.
Levantam-se as secretárias. Viram a cabeça as telefonistas.
Naquele lugar, por tão improvável, o choro causava espanto.
E foram todos procurar a fonte de tanto estrépito.
Fonte que logo foi encontrada, bebê rechon­chudo, deitado em seu moisés, ao lado de uma funcionária.
O diálogo que se seguiu eu não ouvi, mas posso ima­ginar.
Dona Fulana — deve ter perguntado indignado al­guma chefe, o que significa isso?
     Isso significa um bebê. Meu filho.
     Mas o que ele está fazendo aqui?
     Está chorando, como a senhora pode ver.
E por que chorava ali o filho da funcionária? Porque tinha dor de ouvido. E ela, a mãe, não podia deixar o filho doente na creche.
Não tinha com quem deixar em casa. Não tinha com quem deixar fora de casa. Não tinha direito de faltar ao trabalho por doença de filho. Então tinha resolvido o problema da única maneira possível, trazendo o filho para o escritório.
A funcionária canadense era uma mutante, e tinha acha­do uma solução mutante para o seu problema.
Como agiria a maioria das outras mulheres em situação semelhante? Telefonando para uma amiga e pedindo para tomar conta do bebê?
Levando o bebê para a casa da vizinha e até pagando para ela ficar com a criança?
Faltando ao trabalho e sendo descontada por isso?
Ou seja, todas soluções individuais que, de uma forma ou de outra, a deixariam em culpa.
É a isso que me refiro quando digo que não temos vi­vência da nossa nova posição, ou da posição que estamos buscando.
Porque, colocadas diante de situações novas, ten­tamos resolvê-las à velha maneira.
Não por falta de imaginação. Mas pela força da for­mação.
Educadas dentro dos antigos moldes, fomos por eles colocadas numa direção.
É de pequenino que se torce o pe­pino. E quando o pepino, já grande, resolveu tomar seus próprios rumos, viu que pelo menos uma parte do feitio estava determinada.
E era difícil fugir dele.
Penso em nós, mulheres, e nos vejo como um bando de sereias, ou centauros, seres estranhos formados de duas me­tades absolutamente díspares, que lutam para chegar a uma convivência pacífica, para juntar suas duas metades.
Sem que ninguém nos ajude nesse esforço.
Muito pelo contrário.
O mundo ao nosso redor não virou mesa nenhuma. A mesa estava posta por ele, e bem posta.
Quem virou a mesa fomos nós, à sua revelia.
E agora, com certa candura, esperamos que nos compreenda e nos ajude a completar o gesto.
Nem pensar. O grosso do trabalho teremos que fazê-lo sozinhas.
O mundo, por enquanto, embora sob disfarces de bonomia, ainda está tentando nos trazer "de volta à razão".
Sussurra palavras amáveis, diz ao pé do nosso ouvido: "Está vendo só, olha no que deu teu gesto. Você está assustada. Amedrontada.
Você não está feliz. Melhor como estava an­tes, quando, pelo menos, outros eram os responsáveis." E muitas vezes, perplexas, confusas, quase acreditamos, sem encontrar em nós as palavras para responder.
Sim, muitas de nós não estão felizes.
Mas infelizes já éramos antes.
Infelizes institucionalizadas, e sem muito di­reito a choro.
Agora pelo menos, entre uma crise de culpa e outra, entre um momento de insegurança e outro, temos uma esperança pela frente.
Mas as coisas tendem a melhorar.
Ontem ainda os ho­mens todos, em massa, faziam parede contra nós. Eles ainda brandiam suas certezas. E com elas nos ameaçavam.
Hoje já se percebem nítidas brechas nessa parede. E as certezas pa­recem menos veementemente agitadas. Aos poucos alguns homens saem da massa e vêm conversar conosco. Alguns se juntam a nós, trabalham ao nosso lado. E parecem afinal perceber que não há nosso ou vosso lado, há um lado comum.
Alguns. Não todos. A maioria o que faz?
Nos proíbe de trabalhar, nos cobra, nos humilha, nos despreza, quando não nos assassina.
A maioria diz: mulher minha não precisa trabalhar na rua. E o "não precisa" significa "não pode".
A maioria diz que a gente quer trabalhar para abandonar os filhos, para se exibir para os outros homens. A maioria diz que nossos salários são ridículos, que nossas capacidades são diminutas, e que só nosso assanhamento é imenso.
A maioria diz não a nossos desejos de realização, porque a realização de uma mulher está no lar.

E por que os ouvimos? Por que obedecemos?
Por que deixamos que minem nossa segurança? Porque conversamos mais com nosso marido do que com outras mulheres?
Porque sempre vivemos o homem como pai, dador de ordens. Por­que em muitíssimos casos dependemos dele economicamen­te, socialmente. Porque temos medo que nos tome os filhos. Porque, sobretudo, ainda não crescemos o suficiente para recusar frontalmente o que ele diz.
A moça do Canadá tinha uma creche.
Não podia deixar lá o filho doente, mas a creche existe. As moças da Suécia têm padrões sexuais definidos. A liberdade já se estabeleceu, fez seus limites. Essas são condições bem melhores do que as nossas. Condições que revelam um avanço na mutação.
Nós estamos ainda no limbo.
E isso aumenta nosso mal-estar.
A mãe brasileira não tem onde deixar o filho pequeno para ir trabalhar. Só as muito ricas.
As outras não têm alter­nativa.
São obrigadas a recorrer a soluções precárias, que não solucionam nada, que apenas remendam. Nem a situação me­lhora quando a criança cresce, já que os horários escolares são breves, deixando a criança a descoberto na metade do dia.
No Brasil a criança ainda é um problema exclusivo da mãe.
A moça brasileira não tem mais padrões sexuais. Estes variam de acordo com a cidade, o bairro, a família, os ami­gos, a moda.
E ela pode se ver pressionada ao mesmo tempo por modelos antigos e tradicionais, geralmente vindos da família, e pelo liberalismo total do novo ambiente que escolheu. No Brasil a conduta sexual parece não decorrer de um acordo social, mas depender exclusivamente da mulher.
As mulheres do canadá e da suécia, assim como de tantos outros países, têm máquinas de lavar roupa, roupas que não se passam, famílias que só fazem uma refeição completa por dia, hábito de comer enlatados, filhos e maridos que partilham as tarefas domésticas.
A mulher brasileira não tem implementos, tem familiares ociosos e exigentes, todas as roupas para passar, tem que prover as três refeições diárias. Algumas, para compensar, têm empregadas domésticas. Mas o lar é de sua exclusiva responsabilidade. E exige-se que funcione à perfeição.
Procurando a nossa individualização, deveríamos portanto somar ao trabalho na rua (e o esforço profissional que tem que ser colocado para “provar” nossa capacidade: atividade de mãe perfeita, atuação de dona-de-casa exemplar, segurança e excelência no leito.)
E pensamos poder fazer isso tudo sem fraquejar, sem cansar, sem duvidar, sem nos contradizer e nos culpar.
É demais !
Somos absolutamente inocentes.
Disso tenho a certeza. Mas somos uma geração intermediária, uma geração forçosamente esmagada. Nossas novas exigências vieram se somar ao muito que de nós já se exigia.
Nada nos foi aliviado. E não podemos ser nós as culpadas por esta sobrecarga.
A única culpa que talvez tenhamos, se culpa se pode chamar, é a de não reconhecer isso.
De não aceitar a insegurança como natural. Estamos desmatando, abrindo caminho para as outras, e é apenas justo que no traçado desse novo caminho tenhamos hesitações.
Precisamos, urgentemente, aprender a conviver com elas sem tanto sofrimento.
E a usá-las a nosso favor, se, a cada vez que a incerteza aponta, a jogamos para a frente, a passarmos adiante, outros serão obrigados a participara dela, a fazê-la sua.
Como no caso do bebê canadense. Os problemas, esses problemas todos que nós sofremos, até mesmo envergonhadas de sofrê-los, não são pessoais. São coletivos.
E cabe à coletividade resolvê-los.
Mas não nos façamos ilusões. Os outros só seguram um problema quando são obrigados, nunca espontaneamente.
E quem tem que criar a obrigatoriedade somos nós. A moça canadense se arriscou a ser despedida. Mas ela sabia que se fosse despedida poderia criar um caso jurídico, e venceria.
Ela não foi vista com simpatia pela chefe.
Mas todas as outras mulheres do instituto se identificaramcom seu problema e viram nela uma solução.A partir daquela data, quem tiver um filho doente o trará para o trabalho, porque há um precedente.
E o instituto se verá na obrigação de criar uma solução. O bebê da funcionária deixa assim de ser apenas o bebê da funcionária, e se transforma no filho da sociedade, ao qual a sociedade tem que prover.
Olho a mulher ao lado. Que me olha.
Mas, enquanto uma procurar na outra a receita para o seu problema, não chegaremos a conclusão nenhuma. A conclusão virá quando, reconhecendo-nos semelhantes, juntarmos nossos dois problemas e exigirmos a solução àqueles que absolutamente não estão nos olhando.
Me encanta as soluções encontradas por mulheres ditas como muito"corajosas".
Continuo no próximo post.
Forte Abraço, Paz e Muiiita Luz...
     “ A estrutura dos olhos não explica a natureza do olhar.”
              Henry Bergson







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